segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A propósito do ensinar filosofia

Geralmente, a primeira questão que se coloca quando discutimos o Ensino da Filosofia diz respeito a sua própria ensinabilidade da Filosofia. Nesse aspecto, já são clássicas todas as assertivas que indicam a impossibilidade de tornar a Filosofia uma componente pedagógica direcionada ao ensino. Entretanto, tomamos como dado o fato de que há uma atividade, intencional e planejada, que ocorre em sala de aula com o propósito de contribuir para a formação dos estudantes interagindo com a construção de um pensamento, denominado crítico, e que geralmente é chamada de “Ensino de Filosofia”.
Importante, ainda, salientar que reside na academia a ideia de um saber que emerge da investigação científica, próprio de acadêmicos que investem sua vida na competente pesquisa sobre as várias dimensões da vida humana e produzem todos os conhecimentos necessários para que os docentes o transmitam em sua atividade pedagógica. Nesse caso, vigora a dicotomia entre a pesquisa e o ensino, e, infelizmente, entre a academia e o chão da escola. Encontramos aqui uma crítica ferrenha à chamada epistemologia da prática como ferramenta que advém do positivismo e não se presta à construção do conhecimento verdadeira por estar agregada à cotidianidade e empalidecer uma visão dialética das determinações sociohistóricas. Identificamos aqui a cisão entre a teoria – como algo do domínio de notáveis pesquisadores e que só é possível produzi-la bem longe do arenoso terreno dos “práticos” – e a prática – objeto de simples e mortais docente que manejam os métodos e técnicas do ensinar em função do trabalho que lhes é devido: para alguns, transmitirem os conhecimentos produzidos longe das cercanias da escola. Ora, a prática docente não pode ser reduzida a métodos e técnicas de ensino e nem a teoria a mero diletantismo intelectual daqueles que se dedicam a contemplar o espírito no seu mais abstrato desvelar-se.
Não é demais recordar que o professor de Filosofia na escola é, primeiramente, professor. Na escola, sua profissão está demarcada pelo ato de interagir com estudantes na construção de conhecimentos. É necessário entender que a educação, enquanto prática social realiza-se na instituição escolar atendendo a uma intencionalidade explicitada em seu projeto político pedagógico e planejada na mobilização coletiva de sua comunidade. Com isso, parece possível afirmar que, ao dirigir-se à Escola, a Filosofia recebe uma “encomenda” daqueles que a determinam enquanto componente curricular e insere-se num projeto mais amplo que sua disciplinarização que pode ser corroborar para a intervenção na construção de um modelo de homem/mulher e mundo preconizados por aqueles que, de fora, determina qual é a formatação da escola que deverá corresponder ao projeto político vigente. Dessa forma, a Filosofia encomendada para a escola não é qualquer Filosofia. Não é aquela que paira na cabeça de filósofos militantes que podem concebê-la com espaço de formação de uma consciência construtora de mundos menos desiguais, ou aquela dos eruditos que a vêem com uma possibilidade cultural para a frágil formação de nossa juventude, ou ainda aquela dos que a reduzem a um saber histórico. Parece importante, ainda, salientar que o trabalho do professor na escola define o seu compromisso para além da sala de aula, ou seja, com a proposta pedagógica da escola como um todo. Nesse caso, se o trabalho da Filosofia não estiver organizado com a totalidade do projeto que articula seus diferentes componentes curricular corre o risco de tornar-se “um lindo sonho em uma noite de verão”.

Por Junot Matos

Um comentário:

  1. Fico feliz com textos, pensamentos como este, que não só me contemplam as ideias. Mas que me auxiliam no meu próprio pensar.
    Obrigado.

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