Importante, ainda, salientar que reside na academia a ideia de um saber que emerge da investigação científica, próprio de acadêmicos que investem sua vida na competente pesquisa sobre as várias dimensões da vida humana e produzem todos os conhecimentos necessários para que os docentes o transmitam em sua atividade pedagógica. Nesse caso, vigora a dicotomia entre a pesquisa e o ensino, e, infelizmente, entre a academia e o chão da escola. Encontramos aqui uma crítica ferrenha à chamada epistemologia da prática como ferramenta que advém do positivismo e não se presta à construção do conhecimento verdadeira por estar agregada à cotidianidade e empalidecer uma visão dialética das determinações sociohistóricas. Identificamos aqui a cisão entre a teoria – como algo do domínio de notáveis pesquisadores e que só é possível produzi-la bem longe do arenoso terreno dos “práticos” – e a prática – objeto de simples e mortais docente que manejam os métodos e técnicas do ensinar em função do trabalho que lhes é devido: para alguns, transmitirem os conhecimentos produzidos longe das cercanias da escola. Ora, a prática docente não pode ser reduzida a métodos e técnicas de ensino e nem a teoria a mero diletantismo intelectual daqueles que se dedicam a contemplar o espírito no seu mais abstrato desvelar-se.
Não é demais recordar que o professor de Filosofia na escola é, primeiramente, professor. Na escola, sua profissão está demarcada pelo ato de interagir com estudantes na construção de conhecimentos. É necessário entender que a educação, enquanto prática social realiza-se na instituição escolar atendendo a uma intencionalidade explicitada em seu projeto político pedagógico e planejada na mobilização coletiva de sua comunidade. Com isso, parece possível afirmar que, ao dirigir-se à Escola, a Filosofia recebe uma “encomenda” daqueles que a determinam enquanto componente curricular e insere-se num projeto mais amplo que sua disciplinarização que pode ser corroborar para a intervenção na construção de um modelo de homem/mulher e mundo preconizados por aqueles que, de fora, determina qual é a formatação da escola que deverá corresponder ao projeto político vigente. Dessa forma, a Filosofia encomendada para a escola não é qualquer Filosofia. Não é aquela que paira na cabeça de filósofos militantes que podem concebê-la com espaço de formação de uma consciência construtora de mundos menos desiguais, ou aquela dos eruditos que a vêem com uma possibilidade cultural para a frágil formação de nossa juventude, ou ainda aquela dos que a reduzem a um saber histórico. Parece importante, ainda, salientar que o trabalho do professor na escola define o seu compromisso para além da sala de aula, ou seja, com a proposta pedagógica da escola como um todo. Nesse caso, se o trabalho da Filosofia não estiver organizado com a totalidade do projeto que articula seus diferentes componentes curricular corre o risco de tornar-se “um lindo sonho em uma noite de verão”.
Por Junot Matos
Fico feliz com textos, pensamentos como este, que não só me contemplam as ideias. Mas que me auxiliam no meu próprio pensar.
ResponderExcluirObrigado.