Justificativa

O I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia abordará questões em torno do tema: o que queremos com o filosofar na educação básica?”. As discussões e reflexões resultantes do evento contribuirão de forma significativa na definição de um novo paradigma do ensino de Filosofia na Educação Básica no Brasil, bem como, incentivará à produção científica, referente a esta temática.

Destaca-se neste evento a discussão do papel que deverão ter as escolas, as universidades e as faculdades de filosofia frente aos desafios nacionais no panorama de um mundo em mudança e com a inserção da disciplina de Filosofia no currículo da Escola Básica. Refletir de forma propositiva sobre currículo e formação no contexto educacional em que vivemos e trabalhamos, é de extrema importância e centralidade às sociedades contemporâneas.

Nesta medida, o I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia, terá a oportunidade de debater propostas concernentes ao ensino de Filosofia no território nacional, mediante experiências pautadas nas realidades locais, com possíveis reverberações no contexto da América Latina.

São nestes termos que o evento constituirá num cenário de aprendizagens capaz de contribuir de forma significativa para educação nos campos do currículo e da formação no campo do ensino da Filosofia, como problemáticas educacionais entretecidas e reconhecidamente importantes em termos socioeducacionais. É esta experiência acumulada e as realizações contemporâneas debatidas com a presença de pesquisadores de reconhecimento nacional e internacional, que darão densidade ao evento em pauta.

O I CONEF está atento ao movimento de disseminação da filosofia como componente curricular obrigatório no ensino médio nacional, e na perspectiva da efetuação da aprendizagem do pensar desde a educação infantil, segundo uma abertura para a diversidade e multiplicidade 

A oportunidade do I CONEF projeta um amplo espectro de possibilidades de difusão do que é propriamente o filosofar e a filosofia em sua construção emergente nas diversas regiões do país, e se trata de um desafio criador, que necessita de novos agenciamentos metodológicos e diferentes perspectivas de experiência educacional e filosófica.

Pois, se por um lado, a inclusão da Filosofia no ensino médio contribui de maneira consistente para o desenvolvimento de um processo formativo que leve os educandos – adolescentes, jovens e adultos – a pensarem e repensarem sua realidade, seu estar no e com o mundo, ao lado das outras disciplinas e atividades curriculares. A Filosofia, entretanto, não se constitui somente enquanto campo de conhecimento complementar, articulado aos demais existentes no currículo do ensino médio.  É esperado que o desenvolvimento da atitude filosófica incentive à capacitação crítica, possibilitando a ultrapassagem da fronteira do conhecimento fundado na experiência cotidiana imediata do senso comum, para a construção de uma postura de percepção e reflexão do e sobre o mundo e dos lugares desses educandos no mundo.

O novo lugar que a disciplina passa a ocupar nos currículos do ensino médio coloca para as instituições de ensino superior, em especial para as IES públicas, novos desafios. De um lado, o desafio de aprofundar o processo de formação inicial de professores para essa área por meio de desenhos curriculares nos cursos de licenciatura em Filosofia que assegurem uma sólida formação teórica e interdisciplinar, fortemente articulada com as necessidades da escola e do nosso tempo presente com suas demandas específicas. De outro, o desafio de responder à formação continuada dos professores que atuam nessa área, tendo em vista que parcela significativa deles não possui habilitação específica para o exercício do magistério em Filosofia. É caso daqueles profissionais que tendo se graduado em outras áreas e sendo do quadro efetivo do magistério, por diferentes razões, são designados para ministrar Filosofia no ensino médio e que demandam por uma formação continuada que responda aos desafios postos pela práxis cotidiana do trabalho que desenvolvem.

A proposta defendida como horizonte para a formação continuada do professor de filosofia implica em uma mudança significativa na formação do licenciado em filosofia, algo que só a pesquisa e a experimentação podem definir e determinar. A filosofia profissional, de uma maneira geral, tem considerado de pouca relevância a problemática educacional contemporânea, e parece acreditar que o processo formador da filosofia só possa ocorrer apenas por transmissão direta das fontes consagradas da tradição filosófica ocidental. Assim, é preciso levar em consideração o sentido formador da filosofia como atitude investigativa radical, que merece um tratamento além do formalismo escolástico estabelecido, inclusive porque já se foi o tempo em que o texto filosófico ficava restrito há um reduzido número de estudiosos e especialistas de todas as áreas do conhecimento. Também a filosofia atravessa a idade da tecnociência tendo que redimensionar sua presença na formação humana básica e rever suas virtualidades formativas.  Portanto, tudo o que se procura justificar destaca a pertinência da proposta na especificidade do ensino de filosofia na Educação Básica, predominantemente no Ensino Médio.

O presente evento dedicado ao ensino de Filosofia na educação básica se configura, pois, em uma importante ação na perspectiva de se construir saídas para os desafios colocados na atualidade para a formação humana global, nacional, regional e local. E isso de modo a oferecer contribuições teórico-metodológicas que propiciem um ensino dinâmico e criador de Filosofia na Educação Básica, interativo, pautado no diálogo entre o aprendiz e o mestre-aprendiz, a escola e o mundo, priorizando o espaço e o tempo vividos dos/pelos sujeitos nas diferentes escalas. Valorizando a experiência apropriadora do pensar comum a todos os seres humanos, mas que não se encontra dado e nem muito menos garantido pela mera transmissão de conteúdos descontextualizados do desenvolvimento humano pontual.

Os elementos aqui delineados evidenciam a importância do colóquio e toma como escopo para sua organização e desenvolvimento as questões relativas à prática do ensino de filosofia no ensino médio. Dessa forma, pretende-se favorecer o desenvolvimento de uma perspectiva da atividade docente que articule as experiências vivenciadas na sala de aula com a (re)apropriação de conhecimentos específicos da filosofia em sua complexidade (ontologia, ética, política, estética, lógica, epistemologia, gnosiologia, ecológica, cosmológica, antropológica etc.), com a articulação destes conhecimentos ao projeto da instituição na qual atuam os professores e com o desenvolvimento de estratégias de ensino que ao mesmo tempo em que valorizem o campo do conhecimento filosófico histórico propiciem a experiência criadora do aprender a pensar,  constituindo-se como atividade atrativa aos estudantes do ensino médio, podendo estender-se para todo o ciclo da Educação Básica, desde a Educação Infantil.